domingo, 11 de maio de 2008

Como ser a pessoa certa?

Todos procuramos uma pessoa que seja a certa, raramento aceitando ou tendo consciência de que teremos de ser a pessoa certa para alguém.
Ser a pessoa certa implica uma enorme capacidade de nos reconhecermos e sermos pessoas com uma estrutura afectiva adulta, em que não haja lugar para a dependência afectiva, mas sim uma interdependência saudável que implica que as nossas características tenham sempre um verso e um reverso, e a aceitação de que todos temos mais ou menos as mesmas qualidades positivas e negativas.

Todos nós, ao longo do nosso desenvolvimento, quer por circunstâncias externas, quer por circuntâncias internas, nos colocamos ocasionalmente em causa e temos sentimentos de desvalorização, insegurança e perda que reforçam a ideia de que só alguém perfeito nos pode salvar e ser a garantia de que somos merecedores de afecto. A prática da autocomiseração, isto é, o termos pena de não sermos sempre perfeitos, deve limitar-se a cerca de 10 minutos por dia, durante os quais somos vítimas inconscientes e pensamos que os aspectos social, cultural e afectivo se uniram, por uma razão mórbida, para nos maltratar.
Esta desresponsabilização e a ideia de que somos incapazes de crescer dão a ilusão de que o controlo que desejamos na nossa vida passa pela existência de outro que nos indicará o caminho certo para sermos sempre felizes. E essa felicidade passa pelo lugar comum de termos encontrado a pessoa certa. Assim, do mesmo modo que tiramos as medidas e compramos um móvel, porque não poderemos transformar alguém para caber na nossa fantasia de felicidade? Tem 1.80m, olhos meigos e sentido de humor.

Arrisco a pensar que sou a pessoa certa. Aceito as minhas características positivas e tento modificar as menos boas. A pessoa certa é mesmo parecida com aquilo que nós somos. Tem frequentemente características indesejadas revisitadas nesses tais 10 minutos de autocomiseração. A maior partedelas significa que ainda tentamos poucas vezes; e as vezes em que não conseguimos mudar, ser mais adultos, mais interessantes e mais parecidos com aquilo que poderíamos ser são as mais importantes para nós. Não nos lembramos da quantidade de vezes que tentamos e conseguimos arriscar ser uma pessoa bastante certa para nós. Essa pessoa certa tem momentos de egoísmo, de birra, de manipulação e tentativa de controlo do outro; se não, a pergunta tão frequentemente feita com aquele tom mal humorado - "Onde estás?" - não seria comum a todos. E se arriscássemos a perguntar "Onde se supõe que devíamos estar?"? Isso implica também arriscarmo-nos a dizer não e pedir desculpa muitas vezes, para termos consciência de que, apesar de sermos certos, nos enganamos e temos de apagar ou cobrir com corrector pensamentos, palavras, actos...

Ser a pessoa certa também implica falar de afectos e dizer o que se sente, sem medo de julgamentos ou vergonhas infantis. Dizer mais o que nos apetece e não só o que não nos apetece.

Não vale a pena tentar agradar, mentir ou omitir o que se deseja e verdadeiramente se quer. Não adianta fazer fretes. Não se diz logo que não se gosta. Há que experimentar. E, se não gostar, diz-se sem medo da perda.

Esta atitude construtiva permite-nos só encontrar as pessoas certas, já que as pessoas erradas não sobrevivem a tal assertividade e ao facto de sermos simplesmente nós, a tentar melhorar e sempre em crescimento. Todos somos responsáveis pelas pessoas com quem estabelecemos uma relação de afecto, sobretudo as que nos são mais próximas, pretendendo-se fazer em cada família um núcleo gerador de pessoas certas. Para tal, necessitamos de tornar conscientes processos e formas de crescimento em que cada pretexto é uma oportunidade para interiorizar a auto-estima e a capacidade de sermos nós próprios, independentemente das circunstâncias.

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